Frequentemente, atendemos na OrtoBraz clientes que precisam de cadeira de rodas.
Alguns vêm comprar pela primeira vez e ficam em dúvida em relação a uma série de questões para a utilização do equipamento no dia a dia e de como é a vida como cadeirante.
Por isso, trazemos uma entrevista com uma amiga da OrtoBraz, Carol Constantino, do blog Cantinho dos Cadeirantes (www.cantinhodoscadeirantes.com.br)
Ela conta um pouco da sua rotina, das dificuldades para transitar pelas ruas, da falta de atenção aos cadeirantes e também dá dicas para quem precisa utilizar cadeira de rodas.
Vamos começar pelo seu perfil. Como é o seu nome completo, quanto anos, onde nasceu e onde mora?
Carol Constantino, tenho 28 anos, gaúcha nascida em Campo Bom, interior do Rio Grande do Sul, onde moro até hoje.
Pode nos contar um pouco da sua história e como virou cadeirante?
Nasci no dia 22 de junho, saudável e pesando 4.100 Kg. Pouco a pouco fui me desenvolvendo como qualquer outra criança, porém, perto de completar 1 aninho, meus pais perceberam que eu não me mantinha em pé e não dava nenhum passinho. Foi então que começaram a buscar ajuda médica. Consultamos vários especialistas e a única conclusão que tiveram aos meus 2 aninhos é que realmente eu não iria caminhar. Somente com 11 anos é que fiz um exame o qual me diagnosticou com uma deficiência chamada Amiotrofia Muscular Espinhal – AME.
Qual foi a principal dificuldade de adaptação?
Nunca senti falta de andar porque nunca andei, e segui a vida como qualquer outra criança aprendendo a fazer coisas que antes não fazia e criando maneiras diferentes de fazer coisas que todo mundo faz. Por exemplo, eu não caminho, mas aprendi a usar minha cadeira de rodas motorizada que me leva para onde eu quiser e na velocidade que quiser.
E como você está hoje em relação ao uso da cadeira de rodas?
Minha casa é totalmente adaptada. Muitas vezes esqueço que tenho alguma deficiência. Rampas, portas largas, pias com espaço para entrar com a cadeira, cadeira de banho, carro adaptado… fazem parte do meu dia-a-dia. Já me sinto totalmente adaptada, mas sempre estou de olho nas novidades e geralmente surge algum acessório novo que acabo adotando e tornando minha vida mais adaptada ainda.
Como é o seu dia a dia? Trabalha, estuda é casada?
Além de ser blogueira, o que requer bastante dedicação, recentemente também terminei meu estágio e agora estou apenas estudando. Em março de 2019 me formo em Serviço Social e logo pretendo partir para concursos. Estou solteira e sempre tento dedicar um tempo para sair com os amigos, ir a barzinhos ou tomar chimarrão em algum parque.
É sabido que as cidades brasileiras, em geral, não pensam na acessibilidade. Como supera isso?
Infelizmente, a pior barreira que enfrentamos são as barreiras ATITUDINAIS, que se referem à falta de atitude e aos preconceitos que a sociedade tem sobre as pessoas com deficiência. Muitos não se preocupam em construir um banheiro com acessibilidade porque acham que existem poucos cadeirantes que realmente iriam usar. Mas somos 24% de toda população brasileira e se poucos são vistos na rua é porque muitos estão em casa desencorajados a enfrentar a falta de acessibilidade que os outros criam para nós. Basta eu sair para a rua que logo lembro que sou cadeirante, pois não existem rampas em todos os passeios, não existem elevadores em todos os ônibus, não posso pegar um Uber porque não existe nenhum adaptado, preciso ligar antes de ir em algum bar/restaurante para saber se é acessível… Todas estas barreiras poderiam não existir se todos lembrassem da gente, mas por falta de atenção da sociedade é que acabo passando por tudo isso.
Costuma andar sozinha ou sempre tem a ajuda de alguém?
Por ter nascido com deficiência, fui criada com certa super proteção da minha família e isso fez com que eles preferissem sempre estar junto comigo por medo de algo acontecer. Porém, há pouco tempo consegui conquistar a confiança deles e hoje ando tranquilamente sozinha. Vou em festas, shopping, ando de trem, táxi… tudo sozinha.
Como vê os equipamentos para facilitar a vida do cadeirante, como cadeira de rodas? Elas têm a qualidade e funcionalidades ideais ou ainda precisam de evolução?
Conheço pessoas que vivam isoladas em casa por N motivos. A cadeira de rodas motorizada para mim é o acessório mais importante para um cadeirante poder sair e percorrer longas distâncias. Além de segura, traz uma independência indiscutível. Também acontece muito de vários cadeirantes deixarem de sair, trabalhar, pois ganham úlceras de pressão por ficarem muito tempo sentados, e existem várias almofadas especialmente para evitar isto. Existem muitos produtos de qualidade e com uma boa funcionalidade, mas com certeza ainda é necessário que evoluam e desenvolvam produtos mais bonitos, discretos e mais baratos!
Que dicas dá para quem ainda está tentando achar o modelo ideal de cadeira de rodas ou para quem vai comprar pela primeira vez?
Ter uma cadeira de rodas confortável e ágil faz muita diferença na vida de todo cadeirante, pois quando se tem uma cadeira de rodas simples, além de ser horrível de andar com ela na rua, também geram riscos para a saúde do usuário e isso faz com que muitos acabem se isolando. A cadeira ideal é aquela que é indicada para seu tamanho e peso, estofada ou com almofada e rodas infláveis!.
Como analisa as manuais e as motorizadas?
Depende de cada caso. Enquanto a manual é leve e fácil de guardar no carro, a motorizada é enorme e bem difícil de caber dentro de um porta malas. Enquanto a manual é cansativa para se empurrar em longas distâncias, a motorizada anda quilômetros sem que a gente canse. Então, minha opinião é: para pessoas com paraplegia o ideal ainda é a manual, mas para pessoas com tetraplegia a melhor opção é a motorizada. A motorizada é muito boa para quem realmente não consegue se empurrar, mas para àqueles que têm força para se tocar eu não indico a motorizada, pois muitos acabam se acomodando e ficam totalmente sedentários
Em geral, que cuidados você recomenda a quem vai precisar a partir de agora viver em cadeira de rodas?
A primeira coisa é não enxergar a cadeira de rodas como uma vilã, mas sim como uma nova companheira que vai te levar em todo lugar que quiser. Feito isso, invista em uma cadeira de rodas boa, pois faz total diferença para sua locomoção e até mesmo no seu humor. E também caso algum lugar que você deseja ir não seja acessível e você não consiga ir, lembre-se que a culpa não é sua e tão pouco da sua deficiência. A culpa é das pessoas que não lembram que a acessibilidade é algo fundamental.
Você tem um blog onde explora bem as questões voltadas para o cadeirante. Por que decidiu criar o blog e qual a importância dele na sua vida e na do seu público?
Criei o blog em 2011 e naquela época eu percebi que existiam vários direitos referentes às pessoas com deficiência que não eram divulgados. No primeiro momento, criei o blog para compartilhar estas informações na internet, que é um meio de comunicação que se tornou muito popular e de fácil acesso para todos. Logo em seguida, comecei a compartilhar as histórias de vida com o intuito de trocar experiências e ao mesmo tempo desconstruir a imagem do cadeirante ser uma pessoa doente, triste e inválida.
Quais os assuntos que mais gosta de tratar e quais têm mais envolvimento dos seus leitores?
Hoje, depois de 7 anos, consigo aproveitar o meu espaço para abordar vários temas, como viagens, sexualidade, tecnologia e curiosidades…As postagens sobre sexualidade são as mais acessadas e mais procuradas, pois, infelizmente, vivemos numa sociedade onde até mesmo os profissionais de saúde não têm informações corretas sobre o assunto. O preconceito de todos acaba aumentando este tabu, então no meu blog é onde as pessoas com deficiência tiram sua dúvidas sobre isso.
Para finalizar, deixe uma mensagem para os leitores do nosso blog.
Sei que existem momentos bem cansativos e até acabamos nos acomodando, mas adaptar nossas vidas faz toda a diferença, pois tudo fica muito mais fácil. Invista na sua casa, adquira uma boa cadeira de rodas, adapte o máximo que você conseguir, pois tudo vai valer muito a pena e você não vai nem se lembrar que é cadeirante!
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